Cris Botelho
Desde sua primeira importação, em 1875, pelo jardim zoológico do Rio de Janeiro, em caráter apenas de exposição, passando por importações mais técnicas e sob permissão especial do Ministério da Agricultura brasileiro nos anos de 1930, 1952, 1960 e 1962, o zebu vem aumentando o volume de indivíduos e representatividade no agronegócio brasileiro e nos países com os quais tem relações comerciais.
Um crescimento ordenado e com grande embasamento técnico nas questões nutricionais, sanitárias e, sobretudo, genéticas. Desde 1938, a ABCZ se tornou a delegada do Ministério da Agricultura para o Registro Genealógico das raças zebuínas; em 1946, foi feita a primeira exportação de animais vivos para o México, sendo parte deles responsável pela formação da raça Brahman nos Estados Unidos. Em 1968, iniciou-se o controle de desenvolvimento ponderal, já trazendo as bases do melhoramento genético para a futura produção dos sumários.
Logo após este momento, com a visão futurista de reunir e fortificar o setor da Inseminação Artificial, expandir e democratizar essa genética melhoradora, foi criada a ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial). Datada de 26 de novembro de 1974, no Parque da Água Branca, às 15 horas, iniciou-se a reunião de fundação da ASBIA, seus conceito, estatutos e missão. O primeiro Presidente eleito foi o Sr. Romildo de Carvalho Coutinho (Sotave Nordeste Indústria e Comércio Ltda), cujo mandato se estendeu de 1975 a 1982.
Durantes estes 50 anos, vários outros presidentes contribuíram importantemente com seus mandatos, perfazendo a evolução da ASBIA e suas ações de representação setorial, afirmando a liderança no agronegócio: Sinval Palmeira Vieira – 1982 a 1984; João Floriano Casagrande – 1984 a 1992; Luis Carlos Veiga Soares – 1992 a 1994; Dorival da Cruz – 1998 a 2000; Donário Lopes de Almeida – 2000 a 2002; Marco Antônio Volta – 1994 a 1998; Paulo Ricardo Zemeila Miguel – 2002 a 2004; Heverardo Rezende Carvalho – 2004 a 2006; Lino Nogueira Rodrigues Filho – 2006 a 2014; Carlos Vivacgua Carneiro da Luz – 2014 a 2016; Sergio de Brito Saud – 2016 a 2019: Márcio Nery Magalhães Junior – 2019 a 2022; e o atual Nelson Eduardo Ziehlsdorff – 2022 a 2025.
Logo nos primeiros anos deu-se início à coleta de dados para o relatório de mercado, pois além da representatividade setorial, os relatórios e números de vendas são essenciais para a evolução do mesmo. Em 1984, instituiu-se oficialmente o relatório de mercado, o Index ASBIA, que completa 40 anos de publicação.
Acompanhem a incrível série histórica do INDEX ASBIA nas vendas de mercado interno para cliente final, no gráfico logo abaixo.
Fonte: Relatório Index ASBIA / Cepea 2024
Além da evolução genética dos zebuínos e seus cruzamentos, não menos importante foi a aposta das grandes empresas de genética mundial no mercado brasileiro. Várias delas estabeleceram centros de coletas e/ou comercialização no Brasil, trazendo também o acesso ao melhor da genética de leite e corte que estava sendo utilizada no mundo. Foi notório o incremento genético apresentado pelas raças sintéticas, formadas a partir dos cruzamentos de nossos zebuínos (Bos indicus) com essa genética Bos taurus de altíssima qualidade.
É importante destacar o crescimento exponencial de 2018 até o momento, aumento graças às novas tecnologias reprodutivas sendo empregadas, principalmente a evolução dos protocolos de IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo). Quando estratificamos estes números por aptidão corte e leite, observamos que já há quatro anos comercializamos um volume maior que 16 milhões de doses anuais para o corte, mais que 5 milhões de doses no leite e acima de 850 mil doses exportadas na soma para ambas as aptidões. Este vultuoso crescimento, também nas exportações, nos mostra o reconhecimento mundial em dois principais pontos:
1- A qualidade do trabalho de melhoramento genético dos rebanhos produzidos no Brasil, sendo que mais de 90% dessa genética exportada são provenientes de zebuínos e raças sintéticas que possuem genética de zebu;
2- A segurança sanitária, que com regras e protocolos extremamente exigentes aplicados pelo MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), nos faz atingir um status extremamente respeitado por nossos clientes de todo o mundo.
Observe-se no gráfico abaixo a mudança de patamar nos volumes de sêmen exportados nos últimos seis anos.
Fonte: Relatório Index ASBIA / Cepea 2024
Resultados dessa democratização genética também são apontados pelo Index ASBIA, que no fechamento de 2023 apontou que 4.549 municípios utilizaram a Inseminação Artificial: ou seja, 81,7% dos municípios brasileiros. Percebemos a conscientização do pecuarista de que o Melhoramento Genético é essencial para o sucesso do seu projeto, propiciando o aumento de produtividade na mesma área, com maior lucratividade e seguindo a máxima brasileira de uma produção sustentável.
Números atuais (fonte: Embrapa) nos mostram uma pecuária de corte e leiteira de altíssima qualidade, com grande volume e tecnologia de ponta, comparada aos grandes países produtores. São 154 milhões de hectares de pasto com taxa de lotação de 1,32 cabeças por hectare. Atingimos peso médio de abate próximo a 260 kg de carcaça, uma taxa de desfrute de 21,6% e volume de abate de 42,31 milhões. A produção ultrapassou 10 milhões de toneladas de equivalente de carcaça, sendo 28% exportadas e 72% destinadas ao mercado interno, cujo consumo per capita é de 36,7 kg (Abiec, 2023).
O consumo de carne bovina no mundo aumentou rapidamente nos últimos 50 anos e hoje é quase duas vezes maior do que o de 1970 – de 34 milhões de toneladas, atingiu 57,5 milhões em 2022 (Estado Unidos, 2023), muito em função do crescimento da população mundial, que duplicou no mesmo período: de 3,7 bilhões de pessoas (1970), somos em 2024 mais de 8 bilhões de habitantes (Embrapa, 2023).
O Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo, pouco mais de 200 milhões de cabeças, das quais estima-se que 80% são zebuínas ou com genética de zebu. Reforçando os índices otimistas para o segmento da carne, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que em 2032 o consumo mundial de carne deverá atingir o patamar de 77,6 milhões de toneladas, incremento de 5,68 milhões de toneladas em relação a 2023.
Se a palavra de ordem hoje é produzir com sustentabilidade, ou seja, ambientalmente correto + socialmente justo + economicamente viável, ficam as perguntas:
Qual país no mundo tem condições de cumprir essas três premissas e aumentar sua produção para dar continuidade ao ciclo da vida e alimentar o mundo?
O que falta para a população entender e sentir orgulho da nossa vocação e oportunidade de crescimento?
Responda com sinceridade: Isso não se trata de viés político, apenas de consciência da realidade que vivemos.
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RESUMO DA GENÉTICA AO PRATO E DO PRATO À SAÚDE
Escrever sobre genética para o site Zebu para o Mundo é um privilégio para poucos, agradeço imensamente o convite! Uberaba é conhecida como a Capital Mundial do Zebu, sede da maior associação de raças zebuínas do mundo, fato este que fez parte do tripé do projeto Geopark reconhecido pela UNESCO, somados ao Sitio Paleontológico e cidade do Medium Chico Xavier. Sendo o nosso país reconhecido pelo maior rebanho comercial e líder em exportações de carne, diz o ditado “Contra fatos não há argumentos”!
O fato é que a cadeia produtiva da carne bovina é extremamente sensível e precisa de profissionalismo, planejamento e atenção a todos seus elos e detalhes. A começar pela genética, o acasalamento definido nesta estação de montas de 2023/2024, será o bezerro de meados deste ano, desmamado em abril/maio de 2025 com potencial de se tornar o boi gordo de 2026. Isso se tivermos as condições adequadas de manejo, nutrição, saúde animal, pastagens e bons profissionais do agronegócio assistindo e gerenciando até o embarque para o frigorífico. Assim, finalizamos a fase inicial, chamada de produção ou simplesmente da porteira para dentro.
A CARNE
A partir do abate do animal, o músculo experimenta certos processos de natureza bioquímica, a ponto de diferenciar-se de suas características originais, passando a ser considerado carne (PARDI et al., 2001). Durante as horas que se seguem após esse momento, inicia-se o endurecimento dos músculos conhecido como rigidez cadavérica ou rigor mortis. Cujo pH sai de aproximadamente 7 chegando até 5,5 a 5,8.
Neste momento o músculo se transforme em carne desde o embarque na fazenda os animais são transportados cuidadosamente para a planta frigorífica respeitando os períodos de descanso e bem-estar, fazendo-se cumprir as regras do abate humanitário. Após o abate inicia a atenção da indústria para cada etapa de resfriamento, desossa, embalagens, armazenagem adequada, transporte e acompanhamento para o destino final, a gôndola.
O que é qualidade de carne para o consumidor?
A percepção da qualidade da carne pode variar entre os consumidores, por fatores culturais, econômicos e pessoais. Necessidades e expectativas influenciam diretamente nesta definição.
Sensorial (cor, textura, suculência, sabor, odor, maciez);
Tecnológicos (pH e capacidade de retenção de água);
Sanitário (ausência de tuberculose, BSE, salmonelas, Escheriquia coli);
Ausência de resíduos químicos (antibióticos, hormônios, dioxina ou outras substâncias contaminantes);
Ético (bem-estar do homem do campo e dos animais);
Preservação ambiental (se o método de produção não afeta a sustentabilidade do sistema).
Certificações e selos de qualidade;
Preço;
Nutricional (quantidade de gordura, marmoreio, perfil de ácidos graxos, porcentagem de proteína, minerais e vitaminas); A ser comentado detalhadamente pela nutricionista Letícia Moreira;
FATORES DA QUALIDADE QUE SOFREM INFLUÊNCIA DO ANIMAL
Fatores que podem influenciar na qualidade da carne de cada animal (sensorial e nutricional):
Raça: Composição racial;
Sexo: Machos Inteiros (Jovens), Machos Castrados e Fêmeas (Jovens);
Idade de abate;
Nutrição, Manejo e Terminação;
E para finalizar, nada melhor que seguirmos o exemplo dos nossos ancestrais, que tinham na caça como sua principal fonte de alimentação e, com isso, se reuniam em torno da fogueira para comemorar o sucesso alcançado e celebrar com um ótimo CHURRASCO, que é a grande paixão nacional.
Hoje o churrasco evoluiu muito e existem diversos métodos de cocção: Fogo de Chão, American BBQ (Pit Smoker), Confit, Churrasco no espeto (Fogo), Parrilla (Braseiro), Churrasqueira a bafo com papel alumínio ou celofane, Sousvide, dentre inúmeros outros…
Cada corte tem suas características e possuem algumas preferências ou facilidades de se adaptarem a cada um destes métodos. Em grande parte, estão relacionados com tamanho e disposição das fibras, quantidade de colágeno e com isso podemos separar em 2 grandes grupos: Alta temperatura e cocção rápida ou baixa temperatura com cocção lenta, buscando acelerar ou retardar a famosa REAÇÃO DE MAILLARD, tão conhecida na gastronomia mundial.
Químico francês Louis-Camille Maillard – em 1912;
Reação química entre aminoácidos (proteína desnaturada na superfície da carne) e açúcares redutores (glicose e frutose), que normalmente ocorre rapidamente acima de 140 a 165 °C e que conferem ao alimento dourado seu sabor característico. Essa reação é percebida em todos os alimentos e cada um segue um perfil de temperatura como: Bifes grelhados, bolinhos fritos, cookies e outros tipos de biscoitos, pães, marshmallows torrados e muitos outros alimentos sofrem essa reação.
Tudo pronto! Agora é viver a experiência deste momento mágico, de celebração da vida e de um ciclo produtivo que finaliza alimentando o mundo, a carne no prato, preparada com carinho, respeito, com técnicas adequadas, em um ambiente agradável, entre bons amigos e claro, com uma boa música. Assim, conseguimos trazer para o público presente uma experiência completa, não apenas lembrando de palavras e boas conversas, mas realmente vivendo aquele momento especial, se conectando com pessoas e marcas de maneira natural, não impositiva.
“Churrasco quando realizado com técnicas adequadas, ressalta os 5 sentidos (Visão, Audição, Tato, Olfato e Paladar) somados à paixão e estado de espírito, torna-se um potente veículo de comunicação e conexão profunda de marcas com o público presente, trazendo união em um ambiente descontraído e propício para network e negócios”.
Cris Botelho E depois?
Qual a importância e os benefícios da carne para a saúde humana, além da experiência e alegria do churrasco?
Sabemos que a carne sofre de diversos preconceitos, desde sua produção que é sustentável (ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável) até a desinformação sobre seus diversos benefícios nutricionais, que fazem com que este alimento seja essencial para a nutrição humana no seu dia a dia.
Convido vocês a lerem os artigos da nutricionista Letícia Moreira, uma especialista no assunto de nutrição baseada em carne e na dieta carnívora para atletas de alta performance, como o brasileiro Alessandro Medeiros, que com 52 anos de idade conquistou a décima posição no campeonato mundial de Ultraman na ilha de Kona no Havaí! Para os que não conhecem a modalidade, as provas de Ultraman são divididas em 3 dias: No primeiro são 10 km de natação em mar aberto, no segundo 421 km de bicicleta e no último dia são duas maratonas, 84 km de corrida.
E aí, depois dessa você vai ficar sem esse alimento tão precioso?
Coma carne!
Um grande abraço do Cris Botelho! Zootecnista, mestre em produção animal com foco em qualidade de carne, atualmente executivo da ASBIA, churrasqueiro, músico e compositor.